Em meio a dias em que o mundo parece fora de si, entre especialistas em guerra graduados no Twitter (eu me recuso a chamar de X), a gente tenta encher os pulmões e seguir uma “vida normal”. Levanta, fecha as janelas por causa da chuva, faz o café, pega a tolha, toma banho, come um pãozinho, escuta “eu te amo” do filho da sua melhor amiga, sai pro metrô, chega no trabalho, dá umas risadas com o pessoal e abre o computador em uma página qualquer.
“E aí, como você tá?” é a pergunta que algum conhecido nos faz no breve encontro na horinha do café.
“Eu tô bem, e você"?”
“Bem também”.
Parece que tudo vai bem, mas a verdade é que tá todo mundo com a respiração curta e o coração descompassado sem nem perceber. Testa aí, olha pro seu peito, acompanha a sua respiração e me fala se ela não tá meio entalada, peito imóvel, ombro pra cima, beicinho pra frente.
Eu sei que tá, porque eu tô.
Sempre fui de ouvir muita notícia, acompanhar os assuntos, conversar, mas tá difícil. Me pego nas últimas semanas sem vontade de ler meus livros, que estão empilhados em uma mesinha de canto que é prima irmã do Hulk, porque o peso que ela suporta, só mesmo sendo de outro mundo. Entro no Instagram para ver nada, numa ânsia de quem espera receber uma mensagem importante e que não poderia não ser lida. Veja bem, eu nem tenho notificações do aplicativo no telefone, justamente para não ficar ansiosa vendo os memes chegarem pelas mãos dos meus amigos. E olha que a curadoria é boa viu?
Ajeito a cadeira, lembro que tenho que marcar o retorno ao médico do meu pai e me vem na cabeça um texto da Maria Ribeiro, na revista GAMA, em que ela falava sobre o “puerpério ao contrário”. O termo nada mais é do que o sentimento de saber que o tempo passa e que nossos pais, mais especificamente nossa mãe, têm tempo de validade. Eu nem gosto de pensar nisso, porque a relação que eu e minha mãe criamos ao longo de muito tempo, de muito barraco adolescente, e de muita cumplicidade feminina, é um dos meus maiores tesouros da vida. Sabe quando te perguntam “O que você salvaria em um incêndio?” No incêndio imaginário da vida, eu salvaria as minhas memórias e a relação com a Soninha, também conhecida como gerenta da Marisco.
Tomo um gole do café, já frio por causa da temperatura do ar condicionado. Abro o Instagram e volto para terminar este texto. Não era sobre essa “vida diária” que eu pensei em escrever hoje, mas nem tudo sai como combinado, nem com a gente, nem com os textos, nem com os outros. As vezes é sobre o que dá, e no fim, tá todo mundo tentando dar conta de algo.
Desço para almoçar e antes ligo pra dar um oi para minha mãe. Dou uma choradinha de leve na fila do self-service, derrubo um morango na panela de couve com alho. Ainda bem que a freira brava do restaurante não viu. Devolvo o morango para a travessa de frutas, que agora tem sabor “temperinho caseiro”, sento na mesa com os amigos que me são caros, dou umas risadas, falo aleatoriedades, exagero no sal da batatinha, lembro que podia ter comprado uma coquinha zero mas já estou longe do caixa. Ando gastando o menos de energia possível. Não é porque quero, e sim porque é o que dá, mesmo quando a gente quer mais.
Volto, pego o terceiro café do dia e reclamo de mim mesma porque decidi fazer clareamento dental e teoricamente deveria estar tomando esse cafézinho de canudinho. Confesso que acho meio humilhante tomar café no canudinho, ainda mais de papel (porque eu resolvi muito cedo ser uma cidadã sustentável). Tento ridiculamente não deixar o café encostar nos dentes, talvez o canudo me fizesse sentir menos constrangimento.
Escuto a previsão astrológica e a moça diz que o céu está em um momento desafiador. Que bom, vou tentar acreditar nisso e seguir na “minha vida normal”.
Quem sabe amanhã é outro dia?
Hoje seria nosso encontro com a Amanda e a Clara, para falarmos sobre as publicações que acontecem via editais. Por motivos pessoais, as meninas precisaram reagendar esse encontro.
Nos vemos no dia 24 de novembro, as 19 horas. Vamos enviar o link por aqui, então fica de olho.
Por hoje é só. Obrigada pela leitura! 💌
Se você ainda não se inscreveu nessa newsletter, clica aqui:
E se você perdeu a da semana passada ou alguma outra, clica aqui pra ler:
Não esquece de seguir a gente lá no Instagram:
Ajuda a gente a chegar em mais pessoas? É só clicar aqui e mandar para alguém que vai gostar de receber! 💝
Você conseguiu traduzir tão bem esse período desafiador no céu e na terra. Me identifiquei tanto, Bel.